Pontes de Ouro Preto: história, arquitetura e curiosidades das passagens coloniais
“Tome de Minas a estrada,
Na Igreja nova, que fica
Ao direito lado, e segue
Sempre firme a Vila Rica.
Entra nesta grande terra,
Passa uma formosa ponte,
Passa a segunda, a terceira
Tem um palácio defronte.
Ele tem ao pé da porta
Uma rasgada janela,
É da sala, aonde assiste
A minha Marília bela.”
(Tomaz Gonzaga, Lira XXXVI, Marília de Dirceu)
Passeando por Ouro Preto você atravessará diversas pontes, construídas sobre os córregos que cortam a cidade, elas são tão icônicas que estão eternizadas até nos versos da famosa obra Marília de Dirceu. Na Lira XXXVII, o poeta fala de três pontes marcantes da cidade, respectivamente a Ponte do Rosário, a Ponte dos Contos e a Ponte do Antônio Dias, que ficou conhecida depois como Ponte de Marília.
Sobre a primeira, a Ponte do Rosário, já falamos em um post especial, mas hoje você vai descobrir um pouco mais sobre outras que estão espalhadas pela cidade. E vamos começar, claro, pela segunda citada na poesia, a Ponte dos Contos. Ela está localizada ao lado da casa dos contos e surgiu inicialmente em madeira, já mencionada em documentos de 1734. Essas primeiras pontes de madeira eram construídas de forma provisória, até que, a partir de 1740, começaram a ser substituídas por estruturas mais duráveis de pedra. A estrutura final é de pedra argamassada, formada por dois paredões que são interligados por um arco pleno, possui uma cruz e um banco lateral, bastante comuns em pontes da época.
No início do século 20, a Ponte dos Contos sofreu uma grande alteração: foram retirados o banco, o cruzeiro e as pedras originais, sendo substituídos por grades de ferro altas e esguias. A justificativa oficial era a segurança pública, mas também havia o desejo de associar a cidade à modernidade. Essa intervenção, porém, descaracterizou a paisagem, obscureceu a vista da Casa dos Contos e transformou a rua em um “corredor sem luz”. Na década de 1930, com o movimento de valorização do passado, a Inspetoria de Monumentos Nacionais restaurou a ponte à sua forma primitiva, retirando as grades e recolocando o cruzeiro.

Dela é possível observar o Horto Botânico de Ouro Preto, quando se passeia pelo Horto, passa-se por debaixo do arco da Ponte dos Contos. Devido a sua localização central, é um ponto pelo qual você certamente irá passar durante sua visita a Ouro Preto e caso você não se atente, pode até deixar passar despercebida a beleza singular de uma das maiores pontes da cidade.
Já a Ponte de Marília, a última citada na Lira XXXVI, ficou conhecida assim por levar até o largo da Casa Onde morou Maria Doroteia Seixas, a Marília de Dirceu. Também por essa razão, Gonzaga diz no verso que na frente da terceira ponte havia um palácio, o palácio era a casa de sua amada. Outra nomenclatura pela qual ela ficou conhecida foi Ponte dos Suspiros.
Sua construção se deu por volta de 1755, em pedra e cal, tendo os arcos e cruz em itacolomito. Ela é composta por dois paredões, que são interrompidos por dois grandes arcos, no centro da ponte existe um terreno circular e uma cruz de cantaria sobre um pedestal. O parapeito da ponte é feito de pedra aparelhada, e abaixo da ponte a água corre somente sob um dos arcos.

Outras pontes históricas
Para além das que citamos acima, existem outras pontes espalhadas pela cidade, todas elas são ótimos exemplos da arquitetura e engenharia colonial. No livro Pontes e Chafarizes de Villa Rica de Ouro Preto o autor Feu de Carvalho faz uma apresentação detalhada das 6 pontes principais da cidade, em suas palavras: “Trataremos [neste livro] tão somente das construções de pedra e cal que são as que até hoje permanecem e permanecerão sólidas, altivas e soberbas , assistindo se esvair os séculos.”
Na obra, publicada a décadas atrás, Feu já destacava a resistência e perenidade das pontes construídas em Vila Rica. As 6 citadas por ele seguem até hoje, sólidas, altivas e soberbas a assistirem a passagem dos anos. São elas, além das já citadas, a Ponte do Ouro Preto, no Bairro Pilar, a Ponte da Barra, na localidade de mesmo nome, e a Ponte do Padre Faria no bairro homônimo.
Por fim a Ponte Seca se junta às demais, a muito tempo o córrego que corria sob ela foi aterrado, pouco se sabe sobre sua história e ela também não é citada no livro de Feu, mas mesmo assim é uma das belas pontes que contam o seio de Ouro Preto.
Como não existem muitos registros documentais sobre ela, de tal modo que não é possível saber sua época de construção exata. O parapeito da ponte é composto por duas camadas de pedra horizontais, unidas com cal e areia. O vão é irregular e, no ponto mais alto, fica a dez metros do leito. Aos pés dos parapeitos, há um passeio de lajes, enquanto a calçada da ponte é de pé-de-moleque. A estrutura não possui bueiros.
Como não existem muitos registros documentais sobre ela, de tal modo que não é possível saber sua época de construção exata. O parapeito da ponte é composto por duas camadas de pedra horizontais, unidas com cal e areia. O vão é irregular e, no ponto mais alto, fica a dez metros do leito. Aos pés dos parapeitos, há um passeio de lajes, enquanto a calçada da ponte é de pé-de-moleque. A estrutura não possui bueiros.

Assim, as pontes de Ouro Preto não são apenas caminhos de pedra que ligam margens, mas passagens que conectam séculos, memórias e histórias. Algumas carregam nomes poéticos, outras se escondem no cotidiano da cidade, mas todas revelam o engenho da época colonial e a permanência do tempo na paisagem ouro-pretana. Percorrê-las é também atravessar a própria história da antiga Vila Rica.