Museu Aleijadinho: Uma homenagem ao artista Antônio Francisco Lisboa
O Museu Aleijadinho funciona desde 1968, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, no bairro Antônio Dias, em Ouro Preto. Foi criado a partir de uma iniciativa do padre Francisco Barroso Filho, com o objetivo de preservar, reunir e divulgar parte do acervo sacro da Paróquia, que faz parte da própria história da cidade e da construção do barroco mineiro. O nome do museu é uma homenagem a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, Patrono da Arte no Brasil, filho de Manoel Francisco Lisboa, que foi o construtor da igreja onde o museu funciona até hoje.
O acervo tem cerca de 250 peças sacras e documentos gráficos. Entre as obras atribuídas a Aleijadinho estão os Leões de Essa em madeira, que eram utilizados como suporte em cerimônias religiosas, a imagem de São Francisco de Paula em pedra-sabão policromada, que é considerada uma das peças mais importantes do museu, e o Crucificado.
Em 2007, o museu passou por uma grande reforma e ampliação, assinada pelo arquiteto Haron Cohen e com curadoria do historiador português José de Monterroso Teixeira. Desde então, conta com salas temáticas, recursos multimídia, mini-auditório e espaços para exposições temporárias.
A maior parte do acervo está distribuída em quatro ambientes diferentes, mas que fazem parte do mesmo circuito, formado pela Sacristia, pela Cripta e pelas igrejas de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora das Mercês e Perdões.



Quem foi Antônio Francisco Lisboa?
Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho, nasceu em 1738, em Ouro Preto, filho do arquiteto português Manuel Francisco Lisboa e de Isabel, uma de suas escravizadas. Desde cedo conviveu com o ambiente das obras do pai e do tio, aprendendo o ofício entre estaleiros, ferramentas e talhas de igrejas. Estudou no seminário franciscano, onde aprendeu latim, matemática e religião, mas foi na prática que formou seu olhar artístico, trabalhando ainda jovem em projetos ligados à família, como a Matriz de Caeté e a Casa dos Contos.
Seu primeiro desenho registrado é de 1752, para um chafariz do Palácio dos Governadores, na Praça Tiradentes, e já em 1766 aparece ligado ao risco da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, uma das obras-primas do barroco mineiro.
Ao longo das décadas seguintes, Aleijadinho consolidou sua reputação como entalhador, escultor e arquiteto. Projetou portadas, altares, púlpitos e retábulos em cidades como Ouro Preto, Sabará, Mariana, Caeté, Barão de Cocais e São João del Rei. No Carmo de Sabará e no Carmo de Ouro Preto deixou marcas inconfundíveis, com portais em pedra-sabão, talhas douradas e desenhos arquitetônicos que se tornaram referência. Foi chamado para intervir em obras importantes, como a Matriz de Jaguará, a Igreja de São José de Ouro Preto e a Igreja do Rosário, sempre imprimindo seu estilo característico: olhos amendoados, barbas enroladas, drapeados angulosos e um sentido dramático que mesclava solenidade e teatralidade barroca.
A partir da década de 1790, sua obra ganha proporções monumentais em Congonhas do Campo. Ali, executa os “Passos da Paixão” — grupos escultóricos em pedra-sabão que narram os últimos momentos de Cristo — e, pouco depois, as estátuas dos Profetas, erguidas no adro do Santuário do Bom Jesus. São peças que marcaram a história da arte no Brasil, não apenas pela técnica e expressão, mas pela ousadia estética e pela dimensão simbólica que carregam.
O apelido “Aleijadinho” começou a circular nesse período, associado a uma doença degenerativa que deformou seu corpo e limitou seus movimentos. Mesmo com dores, mãos atrofiadas e dificuldades de locomoção, continuou a produzir com a ajuda de aprendizes e oficiais de sua oficina, demonstrando uma resiliência impressionante. Trabalhou até os últimos anos supervisionando obras, como no Carmo de Ouro Preto, onde chegou a se instalar para acompanhar de perto o andamento dos trabalhos. Morreu em 1814, aos 76 anos, sendo sepultado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto.
Entre dúvidas de atribuição, excesso de lendas e escassez de documentos, o que permanece incontestável é sua relevância: Aleijadinho é o maior nome do barroco mineiro e uma das figuras centrais da história da arte brasileira. Sua obra, espalhada por igrejas e cidades históricas de Minas, sobrevive como testemunho de um tempo, de uma cultura e de uma estética que ele ajudou a moldar.